
Conta a história da humanidade que em tempos idos, na velha cidade de Betânia, o Mestre um dia caminhava, cercado de discípulos, rumao à casa de Nain, homem temente a Deus e cheio de preceitos religiosos, os quais buscava seguir criteriosa e religiosamente.
Cercado da atmosfera virtuosa, respeitado e temido pelos seus, Nain esperava orgulhoso a visita do rabi, certo de que, na sua posição privilegiada, poderia esperar do eminente Mestre grandes prodígios e demonstrações em sua casa.
Quando mais tarde chegou o senhor Jesus, com alguns discípulos, apressou-se a recebê-lo com deferência.
O meigo rabi, a passos lentos e leves, penetrou na habitação, onde lauta mesa os esperava e os aparatos testemunhavam o desejo que Nain tinha de agradar e parecer homem de bem.
Na singular simplicidade dos seus gestos, o Mestre tomou assento em lugar discreto e sem atavios, sereno passeando o luminoso olhar pelos demais, que cabisbaixos, mas curiosos, aguardavam as palavras de Jesus.
Nain apressou-se a falar, dirigindo-se ao Senhor:
- Mestre, não é este o lugar que vos havia destinado em minha casa. Tomai assento no lugar de honra que preparei para vós!
E com a mão designava uma bela mesa, coberta de flores e das mais ricas iguarias da época. Um verdadeiro banquete estava à espera do convidado de honra.
O Mestre, porém, sorriu, e levantando-se, colocou a mão direita carinhosamente sobre os ombros de Nain:
- Meu amigo. Grande é a tua bondade preparando com esmero esta lauta mesa para nos receber. Entretanto, aprende que não devemos seduzir com as satisfações mundanas aqueles que desejamos agradar. Ao meu coração basta tua sinceridade, tua presença amiga, teus pensamentos carinhosos, para abrigar-me feliz no aconchego do teu lar, tua harmonia com tua família, teus deveres de solidariedade humana bem cumpridos, para que o ambiente se torne confortável e acolhedor.
E olhando para Nain, que cabisbaixo meditava na sua intolerância para com a esposa e os filhos, na sua intransigência em exigir dos amigos o cumprimento dos preceitos de sua casta, continuou:
— Pediste-me que viesse a tua casa pregar a Boa Nova, trazendo meus companheiros. Entretanto, que poderia eu dizer-lhes se, homens habituados à vida áspera e sem regalias, estão agora distraídos, pensamentos voltados às tentações da satisfação das iguarias que preparaste? Se lhes falasse mais tarde, após fazer jus à fartura da tua mesa, não seria compreendido, porque envoltos na sonolência do estômago bem-satisfeito, não compreenderiam mais minhas palavras. Assim, meu amigo, passemos à refeição, porque aqui não há lugar para a palavra do Senhor.
E voltando-se para Nain, que decepcionado o ouvia, arrematou:
- Quem quiser entender e ouvir as palavras renovadoras da Boa Nova, deve preparar apenas as flores do coração. Ungir seu pensamento de pureza, de bondade e de humildade. Porque só assim poderá ter a grandeza suficiente para entender as palavras e a vontade de Deus.”